Nunca escondi que, assim como a agulha rasga o tecido, muitas vezes você me feriu ao ensinar-me os pontos que construiriam o bordado da minha vida.
A beleza. A lógica. A sequência de cada um deles. Você me mostrou que as coisas não devem ser bonitas só pela frente. Elas devem ser, principalmente, bonitas no avesso.
Talvez seja, por isso, que você tenha dito coisas que me reviraram e fizeram-me ir ao extremo de cada nó do meu ser. Talvez seja, porque, você sempre soube que é no inverso das coisas que os pontos devem ser bem arrematados. Sem remendos. Sem lamentos.
Se costurei isso que, hoje, visto, foi porque você estava lá. Incisiva como uma agulha, fazendo a bainha do meu tecido sempre em exagero. Afiada como uma tesoura, cortando as pontas soltas das minhas linhas. Centrada como um novelo, devolvendo-me o fio da meada quando eu o perdia.
E por isso eu agradeço. Obrigado por ser minha alfaiate. Por esgarçar-me. E depois remendar-me. Por arrematar meus pontos e por-me em moldes tão exatos. Mas também me desculpe. Pelas tantas vezes que não soube apreciar a delicadeza e precisão do seu ofício. Por não ter entendido que seguramos a agulha com os mesmos dedos. Que, no fundo, somos linhas do mesmo carretel.
Àquela cuja importância, em minha vida, não se mede.