Lá fora,
primavera.
Aqui dentro,
todas as flores do mundo.
Para aquelas páginas que em algum momento não queríamos escrever e para aquelas que esperamos muito tempo para escrever.
Para aquelas que foram rasgadas e para aquelas que nunca abandonarão o miolo do caderno.
É como se meus verbos conjugassem só a sua pessoa. E fosse, ela, a única entre tantas singulares e plurais.
Como se o presente se tornasse intransitivo. E o futuro se flexionasse somente em nós.
É como se, escrito em tu, viver não pedisse outro complemento.
Eu jamais poderia imaginar
que a tua resposta seria
o início da mais bela poesia
que as páginas da minha vida
pudessem abrigar.
Deitado ao teu lado, em completo silêncio,
escutei a mais bela canção
nunca antes composta.
Tinha a cadência da sua respiração.
Tocava nos graves da minha alma.
Ecoava aguda no meu coração.
– Não sei – me disse.
– Nem eu – lhe respondi.
E um sorriso se abriu.
De repente, eu não precisava mais de saber.
Não precisava de outros porquês. Me bastava estar. Sentir. Me bastava te viver.
Depois de muito procurar
por quem me tirasse o ar,
Acabei por encontrar
aquele que fez, em minha alma, ventilar.
Capaz de colocar
meu coração no alto, pronto para voar.
Com tantos lugares para me perder, me perdi em você. Com tantos pra me encontrar, me encontrei entre os teus braços.
Entre todos os sabores e cores, o amor tinha o da tua boca. E refletia a da tua pele. Entre tantas melodias, ele tocava no tom da tua voz.
Com todos os lugares para onde isso poderia me levar, me levou àquele onde escolheste não estar.
Nos dias em que a solidão
lembra que existe,
dentro do peito, uma estrofe persiste.
Versos de um poema quase triste.
Rimas que, no vazio, ecoarão
a ausência que ainda insiste.
Hoje, o que há entre nós não comporta mais desculpas.
Porque, se me usara para preencher o vazio que em ti havia, também chorara até saciar a sede de vingança que em mim nascia.
Porque, se te negara para afirmar o orgulho que em mim crescia, também sonhara com os dias em que ti vivia.
Hoje, o que há entre nós é sem tamanho: grande demais pra um reencontro, pequena demais pra um abandono.