Ela costumava me encontrar durante a noite. Quando o corpo sucumbia. E a mente não dormia. Quando o silêncio era, já, ensurdecedor. E o peito se enchia de tremor.
Ela não costumava me causar terror. Envolta no escuro da noite, era uma presença quase irreal. Um veneno à alma. Amargo. Mas não letal.
Até que, ontem, ela me encontrou quando era dia. Quando eu vivia. E não previa.
Até que, ontem, me escancarou. Me encarou. Se apresentou. E me assustou.
Era a Solidão. Eu a reconhecia, mesmo pensando que não a conhecia.
Ela tinha a minha cara. Me consumia com os mesmos olhos que a encaravam. E me devorava com a mesma boca que a indagava.
Me calava com meu proprio silêncio. E entorpecia meu presente e meu futuro com a toxidade do meu próprio eu.